PÃO COM EPISTEMOLOGIA

 



Muitas pessoas tem receitas para fazer pão. É possível que, se não você, algum parente ou amigo próximo tenha também uma receita.

Vamos vamos pensar um pouco: saber fazer o pão, pressupõe que você sabe o que é um pão. Afinal, se for se aventurar a “colocar a mão na massa” precisará saber o que é um pão, para testar a receita e saber se ela cumpre o objetivo de efetivamente chegar no resultado: pão.

Uma criança de um ano pode não saber o que é um pão, apesar de ter sensações degustativas que rejeitam ou acolhem o sabor deste alimento.

Então, já tendo em vista que você sabe o que é um pão, é possível que você saiba como fazê-lo apenas “em teoria”. Ou seja, já leu alguma receita ou ouviu alguém contar sobre o que precisa para esta realizar esta tarefa.

Mas é possível também que você efetivamente saiba fazer um pão porque já efetivamente fez alguma vez.

Agora, se você possui interesses científicos, pode saber por quê juntar farinha, água e fermento, nas exatas proporções e etapas corretas geram o resultado pão. Neste caso, você consegue explicar as propriedades da farinha e até o processo pelo qual farinha se torna farinha. Saberá explicar o que, de fato, é o fermento utilizado para o pão e como interagem com a farinha. Por que a água será necessária e em qual temperatura exata. Enfim, conseguirá provavelmente explicar, que é um passo a mais do que descrever, o processo pelo qual a união de elementos aparentemente tão simples geram um alimento popular e, ao mesmo tempo, bem antigo na história humana.

Certo, agora que já refletimos sobre o pão, vamos discutir “epistemologia”.

Não se trata de um ingrediente novo para a arte de fazer pão, epistemologia é sim a arte de investigar os conceitos atrás dos conhecimentos. Epistemologia ocupa-se de estudar a natureza dos conhecimentos, suas possibilidades. Como os conhecimentos são formados e não exatamente o que são.

Vamos voltar ao pão para ficar mais fácil compreendermos.

Um bioquímico poderia interessar-se em compreender como os ingredientes do pão interagem entre si, gerando o alimento final. Um sociólogo poderia interessar-se pela variação da percepção sobre a importância do pão conforme as diferenças de sociedades. Um economista, talvez, poderia se interessar pela compreensão da variação do preço do pão, conforme impactos do cenário político Internacional intervindo do preço dos insumos.

O exercício epistemológico é diferente dos interesses por conhecimentos exemplificados acima. Ele busca aprofundar na própria natureza do “conhecimento sobre o pão”. Então, façamos algumas reflexões sobre ele, para melhor compreender o “fazer epistemológico”.

Se você afirma “eu sei fazer pão”, é possível que, de fato, saiba fazer pão. É um estado epistêmico. Esta afirmação, ou “proposição”, pode ser verdadeira, mas pode ser falsa também. Afinal, é possível que você tenha afirmado saber fazer o pão porque já leu a receita e acreditou já saber fazê-lo, embora nunca tenha tentado.

Então, talvez a proposição “eu sei fazer o pão” pode se revelar como uma proposição falsa, após, por exemplo, uma tentativa frustrada de fazê-lo. Quando você sai da elucubração teórica e vai para a prática, não consegue o resultado pretendido: a massa não fica consistente e você não consegue fazer o pão, mesmo tendo a receita em mãos.

Neste caso, você poderá concluir, após algum tempo, que, na verdade, o que sabia era quais ingredientes necessários para se fazer o pão, tão somente.

A afirmação de que alguém “sabe algo”, então, pode ser testada, a ser verificada.

Outro tópico interessante sobre epistemologia é refletirmos se todo tipo de conhecimento necessariamente é “proposicional”.

No caso acima, quando se fala que alguém “sabe fazer pão”, isto é um conhecimento proposicional. Mas, também é possível existirem conhecimentos não proposicionais. O que é isso?

Imaginemos que uma pessoa que saiba fazer rosca – cujo processo é parecido com o de fazer pão- possua uma receita para fazer pão. Além disso, esta pessoa também já viu um padeiro fazer esta receita. Esta pessoa sabe fazer pão, “provavelmente”. Ou seja, embora não estamos afirmando sob a forma de uma proposição, não podemos descartar que haja esse conhecimento por parte dessa pessoa.

Então, depois destas breves considerações sobre pão e epistemologia, espero que tenha se interessado em aprender fazer pão ou estudar à fundo a epistemologia. De preferência, torço para que se interesse por ambos!


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Paloma Elaine Santos Goulart

Escritora – Professora - Advogada

Doutora e Mestre em Sociologia / Especialista e Bacharela em Direito



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Referências

ROLLA, G. Epistemologia: um introdução elementar. Porto Alegre: Editora Fi, 2018.


Imagens

Foto de Marco Aurélio por Pixabay. Fonte livre: https://pixabay.com/pt/photos/p%c3%a3o-doces-tortas-2864703/. Acesso em 27/05/2022








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