HUMANOS À DERIVA OU EM MOVIMENTO?

 


Geografia e Ciências Sociais, presentes na formação escolar, nos ensinam sobre Movimentos.

Da Geografia aprendemos que estamos todos à deriva, navegando sobre grandes placas de terra, que se movem lentamente sobre o magma. Espero que não tenha se esquecido desta aula, mas se esqueceu, vamos relembrar alguns pontos.

Aprendemos que a crosta terrestre se situa acima do “manto” do Planeta, composto fundamentalmente por magma, que são, de maneira bem simplificada, rochas em estado líquido.

E por que elas estão em estado líquido? Lembra-se? Por que o Planeta possui temperaturas desiguais. Estas diferenças ocorrem não apenas na crosta, a depender da localização longitudinal dos países e continentes, mas também há diferentes temperaturas quando comparadas a superfície terrestre com o interior do Planeta.

No interior do Planeta as temperaturas são muito altas, por isso as rochas estão derretidas formando o magma e, por isso, a crosta terrestre está em permanente navegação sobre ele. Estamos à deriva, nesta perspectiva mais ampliada.

Agora vamos focar no que acontece sobre a crosta e pensar nos movimentos dos humanos sobre elas. Como nos movimentamos?

Andando, correndo, rastejando, rolando, pulando, saltando, dançando, girando, agachando, ajoelhando, ficando sobre um pé, “plantando bananeiras” etc.

Correto, busquemos mais respostas à pergunta. Quero propor tentar respondê-la a partir de um elemento bastante singular que acompanha os seres humanos: o fazer cultural.

Não é objetivo deste texto discutir a infinidade de conceitos possíveis para a palavra “cultura”, mas, apenas para termos algumas referências, quero que saiba que a palavra cultura se parece com a palavra cultivo porque ambas tem origem etimológica comum. Além disso, ambas remetem à ideia de “transformação” e “criação”, por assim dizer. Quando plantamos uma semente, regamos periodicamente e cuidamos para que a semente seja exposta em condições adequadas de sol, nascerá um ser vegetal. Ou seja, “cultivamos” um ser vegetal, intervindo na transformação daquela semente original. Agora, quando criamos regras de convivência, quando transformamos a comunicação em complexos linguísticos pelos quais nos comunicamos, quando expressamos conhecimentos e sentimentos por meio da arte, estamos vivenciando nossa incrível capacidade de fazer cultura. Sendo também maneiras de “criação e transformação”.

Então, como somos humanos produtores de regras e símbolos, ou seja, somos seres que produzem cultura, volto a pergunta: como nos movimentamos?

Alerto para a capciosidade da pergunta, pois ela tem uma infinidade de respostas possíveis e, neste texto, irei buscar uma, dentro da diversidade que poderia ser abordada.

No plano cultural, os seres humanos podem se aglutinar em prol de objetivos comuns, formarem placas – não as tectônicas – mas placas humanas com propósitos e identidade próprios a fim de reivindicarem mudanças sócias ou assegurarem a permanência de padrões sociais. A isso damos o nome de “movimentos sociais”, um tema amplamente estudado nas Ciências Sociais.

Os movimentos sociais podem ser definidos como:


Ações coletivas de caráter sociopolítico, construídas por atores sociais pertencentes a diferentes classes e camadas sociais. Eles politizam suas demandas e criam um campo político de força social na sociedade civil. Suas ações estruturam-se a partir de repertórios criados sobre temas e problemas em situações de: conflitos, litígios e disputadas. As ações desenvolvem um processo social e político-cultural que cria uma identidade coletiva ao movimento, a partir de interesses em comum. Esta identidade decorre da força do principio de solidariedade e é construída a partir da base referencial de valores culturais e políticos compartilhados pelo grupo. (Gohn, 1995, p.44).


A solidariedade é o amalgama destas “placas humanas”. E, como toda boa placa, nela será gravada sua mensagem, sua identidade, que representa o motivo que leva os seres humanos a estarem unidos: a causa defendida.

Movimento Feminista, Movimento Negro, Movimento LGBTQIA+, Movimento pela Reforma Agrária, Movimento Estudantil são exemplos contemporâneos, bastante conhecidos, de movimentos sociais. Todos eles possuem complexas estruturas e raios de ações, além de históricos com fases distintas e diferentes nuances de intervenções sociais.

Além disso, tal como os movimentos feitos pelas placas tectônicas são influenciados pela alta temperatura do interior do Planeta, impulsionando a circulação do magma, os movimentos sociais também não são frios, eles se movimentam a partir de impulsos vigorosos do querer humano, do calor interno que movimenta desejos em sintonia a pensamentos e sentimentos em prol da realização de objetivos em sociedade. O fazer cultural prescinde de calor tal como as plantas para o seu cultivo.

Também em comum a ambos os movimentos, o das placas tectônicas e os sociais, é a possibilidade de que haja convergência, divergência e sobreposição nos percursos das placas e dos movimentos.

Placas podem se chocar frontalmente, tal como movimentos sociais. Ou podem se afastar ou se sobrepor. Nem sempre é um processo de fácil acomodação, mas é certo que sempre criam novas plataformas para o fantástica experiência humana de estar no Planeta, criando possibilidades diferentes de viver o mundo, reformulando caminhos para que os corpos e as ideias transitem e se aprimorem.


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Paloma Elaine Santos Goulart

Escritora e Professora.

Doutora e Mestre em Sociologia / Especialista e Bacharela em Direito


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Referências

GOHN, Maria da Glória. Movimentos Sociais no Início do Sécuo XXI. Petrópolis: Vozes, 2003.


Imagens

Imagem de worlkd12rs por Pixabay. Disponível em <https://pixabay.com/pt/photos/bolhas-homem-pra%c3%a7a-da-cidade-3956708/>. Acesso em 30/05/2022.


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