INTELIGÊNCIA E INTELIGÊNCIAS



Quem nunca ouviu um pai ou mãe orgulhosa afirmar que o filho ou filha é excelente em matemática, mas não tão bom em português. Ou então, contar sobre as habilidades artísticas do filho ou filha e, em seguida, pontuar sobre as dificuldades em outra área do conhecimento, como física, química ou outro.

Nós mesmos, quando pensamos nas aptidões e escolhas de percursos profissionais sabemos quais áreas nos parecem mais fáceis, mais compreensíveis ou mesmo mais prazerosas.

Tendemos, inclusive, a ir dedicando menos tempo para estudar e aprender conhecimentos de áreas que sempre nos pareceram ser mais difíceis ou incompreensíveis.

Existem empresas que estimulam trabalhadores a adquirem conhecimentos alheios às tarefas imediatas que realizam, por meio de capacitações diversas, na tentativa de aprimorar processos e comunicação interna nos ambientes organizacionais.

Mas por que tendemos a nos fechar em algumas áreas de conhecimentos?

É certo que a vida profissional pode impulsionar este fechamento. Vamos pensar: um engenheiro de produção que labora há vários anos em uma indústria específica, provavelmente trilha um percurso formativo ao longo dos anos de especializações para aquele ramo empresarial.

Ou, uma empresária do ramo alimentício, que passa a longo anos da vida entendendo sobre receitas, condicionamento de alimentos, distribuição, entrega de itens perecíveis etc. Seria mais um caso em que, certamente, impulsiona o direcionamento para o estudo de conhecimentos adstritos à uma área específica.

Estes são exemplos, dentre tantos que poderiam ser descritos. Com eles, partiremos para duas reflexões.

A primeira reflexão é sobre inteligência, ou melhor, inteligências.

Medir a inteligência, através da Psicometria, com o uso de testes e avaliações aplicados a indivíduos, é uma perspectiva sobre o que seja inteligência chamada de “unidimensional”. Ou seja, leva em consideração padrões a serem observados nos indivíduos testados e avaliados, que podem indicar maior ou menor inteligência.

Porém, se pensarmos que podem existir inteligências diferentes para cada área de conhecimentos ou habilidades humanas? E se pensarmos que podemos ter mais desenvolvidas nossas inteligências para algumas dessas áreas e outras não muito? Esta é uma perspectiva multidimensional da inteligência.

Nesta linha, da perspectiva multidimensional, foram desenvolvidos os estudos de Gardner (1994, 1995). Para ele: “as múltiplas faculdades humanas são independentes em graus significativos" (Gardner, 1995, p. 29).

Então, se é assim, quantas inteligências existem e quais são elas? Você pode estar se perguntando.

Foram feitos estudos na Universidade de Harvard, lideradas por Gardner e outros cientistas que catalogaram, inicialmente, sete tipos:


7 TIPOS DE INTELIGÊNCIAS, por Gardner (1995)

LÓGICO-MATEMÁTICA 

LINGUÍSTICA                                                                                            

CINESTÉSICA-CORPORAL                                                   

MUSICAL                                                                                 

ESPACIAL                                                                                 

INTERPESSOAL                                                                       

INTRAPESSOAL


Posteriormente, outras formas de inteligência foram incorporadas nos resultados dos estudos de Gardner, como a naturalista e a existencialista (Gardner, 1997).

Chamo a atenção aqui para um detalhe: os estudos de Gardner não sugerem uma espécie de determinismo do tipo: se a pessoa tem inteligências musical e espacial mais desenvolvidas que as demais, significa que sempre será assim até o fim da vida.

Gardner vislumbrava que, se estimuladas, as pessoas podem desenvolver as inteligências que, numa primeira análise, podem parecer menos desenvolvidas que outras: " os indivíduos podem diferir nos perfis particulares da inteligência com os quais nascem, e que certamente eles diferem nos perfis com os quais acabam" (Gardner, 1995, p. 15).

Traduzindo de forma simples: sempre há tempo para aprender novos conhecimentos, em áreas de pouco convívio.

Nesta altura do texto, quero trazer mais uma reflexão acerca do tema. A primeira foi sobre a diferenciação de inteligência e inteligências. A segunda será sobre modéstia.

Apropriado saber que cada pessoa possui uma trajetória de vida particular, tendo acessos a distintos conhecimentos e trazendo consigo propensões a se dedicar mais a certas áreas do conhecimento que a outras.

Porém, a licença da “expressão livre” por vezes não considera estas trajetórias e mesmo desmerece conhecimentos que foram paulatinamente lapidados, por anos. Opiniões não refletem necessariamente conhecimentos cuidadosamente desenvolvidos, trabalhados.

O acesso a muitos conteúdos na internet não implica em construção de “conhecimento”, necessariamente. Devemos ser modestos ao ouvir quem se dedica, há anos, à pesquisa séria e comprometida de uma área específica, buscando silenciar egos, para aprender novidades.

Nada mais “inteligente” que respeitar e ser modesto em opiniões, quando estas refletem mais emoções e vontades do que conhecimentos propriamente ditos.




Paloma Goulart

Escritora – Professora - Advogada

Doutora e Mestre em Sociologia / Especialista e Bacharela em Direito



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Referências


GARDNER, H. (1995). Inteligências Múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre:

Artes Médicas.

GARDNER, H. (1997, setembro). Sobre as várias inteligências: Nova Escola, n. 105. (pp. 42-45). São Paulo.


Imagens

Imagem de partículas, de Gerd Altmann por Pixabay. Imagem de livre uso e atribuição. Disponível em: <https://pixabay.com/pt/illustrations/f%c3%adsica-qu%c3%a2ntica-aceno-part%c3%adculas-4550602/>. Acesso em 12.07.2022



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