EDUCAÇÃO AMBIENTAL NOS ANIVERSÁRIOS

 

Chegou o fim de semana e a criança recebeu o convite para mais uma festinha. Para quem tem filhos em idade escolar, faz parte da rotina frequentar os aniversários dos colegas, junto aos filhos.

Em geral, os espaços são decorados com muitos adereços. Balões coloridos, arranjos na entrada, sobre as mesas, muitos itens de plástico. Fora as lembrancinhas de festa, geralmente brinquedos de plástico, cuja durabilidade é demasiadamente pequena.

Ao fim de festa, o volume do lixo com talheres, pratos, embalagens plásticas diversas é muito grande.

Pode ser que esteja pensando: “mas é uma comemoração e o consumo é diferente, alterado para mais, pois se trata de um momento especial'.

Sim, comemorações que reúnem muitas pessoas geram um impacto significativamente maior. Formas mais “práticas” para receber convidados, como uso de talheres descartáveis; decorações em maior quantidade, mais lembrancinhas de fim de festa: tudo contribui para este maior impacto da festa, em termos de produção de lixo.

E há alternativas?

Sim: adoção de talheres laváveis, decorações mais simples, substituição de flores plásticas pelas naturais, lembrancinhas que possuem mais durabilidade e que contenham menor uso de plásticos. Há tantas possibilidades: quebra-cabeça de madeira, caneca de fibra vegetal, boneco ecológico, pipa..

E por que refletir e mudar as práticas?

As crianças estão em processo de socialização. Todas as reproduções de práticas que não reduzem impactos ao meio ambiente tendem a ser naturalizadas pelas crianças.

Ou seja, para além do impacto em si, chamo a atenção aos valores, imaginários e práticas que são transmitidos ou fortalecidos para as crianças:

Peter L. Berger e Thomas Luckmann definem a socialização como "a ampla e consistente introdução de um indivíduo no mundo objetivo de uma sociedade ou de um setor dela" (p. 175).

Na família, as crianças vivenciam a socialização primária, primeira em sociedade. Para os autores Berger e Luckmann, a socialização primária é "a primeira socialização que o indivíduo experimenta na infância, e em virtude da qual torna-se membro da sociedade". Já a socialização secundária é, segundo os autores, "qualquer processo subsequente que introduz o indivíduo já socializado em novos setores do mundo objetivo de sua sociedade". (p. 175).

Então, o que pode parecer de difícil adaptação hoje, pode ser reflexo de uma reprodução social irrefletida, que tende a se repetir se as crianças são socializadas nas mesmas práticas.

Como eram os aniversários há 20, 30, 40 anos atrás?

Será que havia a quantidade de plásticos e lixo ao fim das festas, tal como nas festas atuais?

O documentário “Criança, a alma do negócio”, discute publicidade voltada ao público infantil. Chama a atenção a vulnerabilidade com que as crianças recebem as mensagens publicidades impulsionando o consumo dos brinquedos vendidos.

Essa mesma vulnerabilidade existe nos momentos diários, não apenas quando expostos a propagandas com intuito específico de vendas de brinquedos.

Quando discutimos o tema das festas, podemos trazer essa ideia de vulnerabilidade e aplicá-la. As crianças assimilam “como” deve-se comemorar um aniversário, aderindo a imaginários de consumo diversos. Também assimilam e naturalizam os tipos de consumo e mesmo as matérias-primas que são usadas para a promoção das festas.

Não se trata de radicalismos, os produtos de plástico estão presentes em nosso cotidiano, de forma geral. Sabemos disto. Mas já não é novidade saber também que o consumo excessivo deste material na sociedade está causando problemas sérios ao meio ambiente.

Podemos sim, ser contundentes ao tributar a maior responsabilização destes problemas aos grandes produtores de lixo, indústrias. Podemos, igualmente, nos esforçar para aplicar adaptações de modo a reduzir nossa própria geração de lixo, por exemplo, repensando os modelos das festas oferecidas às crianças.

Importa para o meio ambiente, no presente e no futuro. Importa para a socialização das crianças. Devemos oferecer um repertório de valores que não privilegiem indiscriminadamente a diversão se sobrepondo da vida e da nossa grande casa, o meio ambiente.



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Paloma Goulart

Escritora -Professora-Advogada

Doutora e Mestre em Sociologia / Especialista e Bacharela em Direito



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Referências:

BERGER, P.; LUCKMANN, T. A construção social da realidade. Petrópolis, Vozes, 1976.

RENER, Estela; NISTI, Marcos (dir.). “Criança, a alma do negócio”. Documentário. 4'58''. Disponível em <https://criancaeconsumo.org.br/noticias/crianca-a-alma-do-negocio-assista-gratis/>. Acesso em 11.07.2022.


Imagens:

Imagem livre de Gerald Wintersperger, por Pixabay (07.02.2022).


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