APRENDIZADO: INATO OU PELA EXPERIÊNCIA?
Carla e Joana, nomes fictícios, são duas mães que conversam na porta da escola em que os respectivos filhos estudam. Joana conta o sucesso do filho nas aulas de matemática e orgulha-se em dizer que, desde muito novo, ele havia aprendido a somar e subtrair em um processo autodidata.
Carla, por outro lado, queixa-se das dificuldades da filha na mesma área, matemática, e diz que apenas com os estímulos fornecidos em sala de aula é que a criança tem superado os problemas para compreender conceitos e aplicá-los em questões práticas.
Vejam, as mães partem de pontos de vista distintos: Joana defende uma certa “propensão” natural do filho para aprender matemática e esta seria, segundo ela, a razão explicativa para o sucesso da criança. De outro lado estava Carla, tributa aos estímulos que a filha recebe a razão explicativa para a superação de dificuldades da filha em aprender matemática.
Estas percepções das mães mostram duas tendências diferentes de tentar explicar motivos que levam à aprendizagem, portanto. Elas foram destacadas aqui porque são duas tendências utilizadas também nas teorias sobre Aprendizagem.
Podemos chamar de “correntes”, as tendências que visam explicar os processos de Aprendizagem e, como já informamos, existem duas principais, que permeiam vários estudos: a ideia de inatismo e a ideia do empirismo. Elas partem de pressupostos distintos.
Para o inatismo todas as características para o desenvolvimento da aprendizagem mais elementares já estariam nas pessoas antes mesmo do nascimento, via transferência hereditária. Já o empirismo defende que a base do aprendizado é a experiência que se tem com ambiente e a maneira como o aprendiz percebe os estímulos que vem deste ambiente.
Quando se fala inatismo, devemos rememorar a base teórica do racionalismo de René Descartes (1596-1650). Para ele o ser humano era capaz de formular, de formatar o próprio pensamento. Desta forma, as influências do ambiente não eram o ponto fundamental para a aprendizagem. Ou seja, aprender teriam mais relação como uma operação mental, lógica, discursiva, do que com uma operação sensorial.
Empirismo também é nomeado de ambientalismo ou associacionismo. Remonta às teorias do filósofo inglês John Locke (1632-1704). Para ele, todos os seres humanos seriam como “tábulas rasas”, ou seja sentem e percebem o mundo e imprimem experiências sensório-motoras, a partir destas capacidades.
Outro teórico fundamental da corrente ambientalista é David Hume (1711-1776), para o qual os cinco sentidos seriam fundamentais para a construção dos conhecimentos.
Estas bases foram importantes para o surgimento do behaviorismo ou comportamentalismo, teorizado pelo russo Ivan Pavlov (1848-1958) e pelo estadunidense John Watson (1878-1958). A defesa comum de ambos era de que os estímulos do ambiente geram respostas, propiciando a aprendizagem.
Tanto as bases do empirismo, quanto as bases do racionalismo são relevantes para o desenvolvimento das teorias sobre aprendizagem, que surgiriam posteriormente aos autores citados.
Outras perspectivas, influenciadas por estas correntes, surgiram posteriormente.
Na área da educação atualmente, dois autores exercem muita influência na construção de estratégias de aprendizagem: Jean Piaget (1896 – 1980) e Lev Semenovich Vygotsky (1896-1934).
Piaget desenvolveu uma teoria que descreve as fases do desenvolvimento cognitivo e afetivo dos seres humanos, a partir de estágios*¹:
Sensório motor: de 0 a 2 anos
Pré-operatório: de 2 a 7 anos
Operatório concreto: 7 a 11 anos
Operatório formal: 11 a 15 anos
Para Piaget, os seres humanos são intelectualmente ativos, são observadores, comparativos, questionadores. São capazes de classificar, organizar elaborar e reelaborar hipóteses.
Vygotsky é conhecido, dentre outros, pela defesa de que o desenvolvimento cognitivo humano se dá por meio de um processo de apropriação da experiência que vem da cultura e da história. Por isso dá-se o nome desta abordagem de socioconstrutivista.
São conhecidos dois conceitos de Vygotsky: zona de desenvolvimento real e zona de desenvolvimento proximal. A primeira seria aquela cujas tarefas a criança consegue realizar sozinha, já a segunda seria relacionada às tarefas e conhecimentos que necessitam de instrução e ensino. Seria papel da educação mediar estas duas zonas de desenvolvimento.
Diante da apresentação destas correntes e teorias da aprendizagem, você deve estar se perguntando: qual daquelas mães mencionadas no início deste artigo utilizando argumentos corretos sobre os processos de aprendizagem? Carla ou Joana?
Podemos dizer que ambas possuem argumentos que contem visões parciais sobre o processo de aprendizagem. De toda forma, a observação do processo em si já é relevante, cabendo a quem esteja no papel de educador – professores, mães, pais etc – buscarem aprimorar conhecimentos teóricos e práticos que favoreçam o pleno desenvolvimento de educandos e também a autoeducação, sempre!
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Paloma Elaine Santos Goulart
Escritora e Professora.
Doutora e Mestre em Sociologia / Especialista e Bacharela em Direito
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Notas
*¹ Rudolf Steiner (1861-1925) filósofo e educador que fundou a Pedagogia Waldorf, defendia que o desenvolvimento humano também acontece em ciclos, porém, para ele, seriam divididos de sete em sete anos. Estes ciclos de desenvolvimento não estariam restritos ao desenvolvimento das crianças e adolescentes apenas, mas também presentes ao longo de toda a existência humana.
Referências
BOCK, A.; FURTADO, O. &
TEIXEIRA, M. Psicologias – uma introdução ao estudo da
psicologia. 14.ed.; São Paulo: Saraiva, 2008.
VYGOTSKY, Lev S. O Desenvolvimento Psicológico na Infância. São Paulo: Martins Fontes. 1999.
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