ARCO DE FLORES E RITOS ESCOLARES





Na foto está o "Arco de Flores": montado por mães e pais de alunos junto com a professora de uma escola que adota a Pedagogia Waldorf. É utilizado em uma prática dentro desta pedagogia que pode ser descrito aqui como um rito que marca a transição dos alunos que concluem a fase do Jardim e irão ingressar no Primeiro ano. 

O rito do Arco de Flores situa-se na transição em que a criança, já tendo descoberto o mundo bom, agora ingressa na descoberta do mundo belo. Na Pedagogia Waldorf, o primeiro setênio da vida - ou seja nos primeiros 7 anos - é o momento de descobrir o mundo bom. No segundo setênio da vida – a partir dos 7 até os 14 anos, descobre-se o mundo belo e no terceiro setênio – de 14 a 21 anos, a descoberta é do mundo verdadeiro.

O planejamento do arco acontece vários dias antes do rito. As famílias e docentes se mobilizam para providenciar todos os materiais necessários à construção do arco. São necessários: bambus, que são ao mesmo tempo resistentes e flexíveis, para se formar o arco; dois vasos ou latas pesadas com terra ou pedras dentro, para fincar cada ponta do arco; além de muitas flores e folhas, bem como arames ou cordas resistentes para amarrá-los ao arco.

As famílias e professores se unem também para montar o arco, essa estrutura que traz às crianças uma bela visão de passagem de ciclo, uma espécie de portal encantado.

Encantamento este fundamental para despertar o interesse das crianças pelo mundo e, mais que isso, para trabalhar a terra fértil no coração das crianças, em que irão brotar conhecimentos sobre este mundo.

No dia marcado para o rito, os alunos se sentam em cadeiras posicionadas na frente do arco e são chamados pelo nome, um de cada vez, com atenção e respeito à singularidade e individualidade de cada ser humano.

Ao se levantar, a criança caminha em direção ao professor ou professora do Jardim e despede-se dela, sendo comum acontecer um longo abraço. Inicia-se uma música, executada ao vivo pelo professor ou professora de música da escola, podendo ser acompanhado por outros músicos – professores, pais, familiares. A música versa sobre coragem e alegria para que as crianças sigam o caminho.

Em seguida, algum aluno ou aluna em idade mais avançada vai ao encontro da criança, toma-a pelas mãos e segue com ela até o arco. Há poucos passos do arco, soltam as mãos e apenas a criança que irá para o Primeiro Ano passa por baixo do Arco de Flores.

Do outro lado do arco, à espera, está a professora do Primeiro ano, que a recebe amorosamente, abraçando-a e dando boas-vindas.

A criança, já tendo atravessado o arco, senta-se em alguma das cadeiras posicionadas deste outro lado do arco, agora junto à nova professora ou professor que a recebeu.

Na sequência, outra criança que é chamada para fazer a travessia. A música é reiniciada e todas as etapas são cumpridas novamente: a despedida do professor ou professora do Jardim, o auxílio de um aluno mais velho conduzindo até o arco, a passagem pelo arco e a acolhida da criança pela nova professora.

Este rito ensina a todos, ensina sobretudo a todos os educadores ali presentes. Quando digo educadores, incluo famílias também. Desde a preparação do arco são trabalhados o convívio, a colaboração, o amor, a beleza e inúmeros valores tão caros à uma vida repleta de ricos significados.

Todo trabalho de educação, implica, em primeiro lugar em autoeducação. Esta é uma máxima muito conhecida que foi dita por Rudolf Steiner, filósofo e educador fundador da Pedagogia Waldorf.

O rito do Arco de Flores, que é apenas um dos belos ritos que existem nas práticas das escolas que adotam a Pedagogia Waldorf, inspira a todos nós, educadores – sejam professores, pais, mães ou outros responsáveis pela educação de um ser humano – refletir sobre nossas próprias práticas.

Quando estou em sala de aula ou mesmo quando estou lecionando em treinamentos à distância, sempre me pergunto: como posso gerar encantamento pela vida, alegria de estar vivo, de estar aprendendo? É muito mais que apenas aprender por aprender...

Nas práticas da Pedagogia Waldorf sempre existe o fomento ao amor e ao encantamento pela vida. Elas me emocionam e me inspiram!


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Paloma Goulart

Professora - Escritora - Advogada

Doutora e Mestre em Sociologia / Especialista e Bacharela em Direito



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Referências:

STEINER, Rudolf. A Prática Pedagógica: segundo o conhecimento científico-espiritual do homem. Tradução Christa Glass. 2 ed. São Paulo: Antroposófica; Federação das Escolas waldorf no Brasil. 2013.


ROMANELY, Rosely. A Pedagogia Waldorf: cultura, organização e dinâmica social. Curitiba: Appris, 2017.



Imagem:

Fotografia de Miguel Lara, 07/02/2022. Licenciada para divulgações pela autora deste texto.

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